12 de mai. de 2008

Respostas...

Olá pessoal

Eu recebi, neste final de semana, um e-mail com uma série de questionamentos de uma garota que, com o consentimento dela, reproduzo abaixo, junto com as respostas:

(...)
P: Anika tenho 21 anos,moro no interior;sou gp iniciante.
R: Começou já com uma boa idade, o que é melhor. Eu comecei com 19 anos (mentindo que tinha 21). Mas leia o resto das respostas...

P: Tenho mtas duvidas e acho q vc pode me dar uma orientaçao:
R: Nossa, olha só a responsabilidade que ela me brinda... Como não tenho pretensões de ser guru de ninguém, vou responder baseado em minha experiência de vida, ok?

P: vc me indicaria alguma cidade para trabalhar?
R: Meu anjo, você me disse que era do interior, mas não de qual estado. Vou te responder baseada em minha experiência. Eu também sou do interior, mas a cidade onde morava era considerada média (mais de 150 mil habitantes). Saí muito cedo de casa (15 anos) para estudar na capital. Ou seja, morei sozinha (quer dizer, junto com uma colega de aula) desde muito cedo. Isso facilitou muito minha vida sexual (eu era muito ativa nesta época), ao mesmo tempo que me deu uma maturidade e independência fantásticas.

Quando me tornei GP, com 19 anos, eu passei por várias cidades diferentes, desde pequenas (menos de 50.000 habitantes) até grandes capitais como São Paulo (que fiquei por poucos meses). Estes dois extremos eu NÃO RECOMENDO.

A cidade pequena é foda no sentido de que você logo se torna conhecida e, muitas vezes, é hostilizada pelos moradores (não esqueça que cidades pequenas são sempre mais conservadoras).

Nas grandes capitais, ao contrário, você será apenas mais uma na multidão. E olha que a concorrência numa cidade como São Paulo é foda!!! Tem mais clientes, mas também tem mais garotas do mesmo nível (ou melhor) que o seu te fazendo uma concorrência duríssima.

Por isso, eu sempre gostei das cidades médias. Não tão pequenas que te encham o saco, nem tão grandes que te façam desaparecer. Sem contar que, no quesito segurança, as cidades médias ganham disparado das grandes capitais. Posso citar como exemplos de cidades médias: Londrina (PR), Maringá (PR), Ribeirão Preto (SP), Franca (SP), S.J.Rio Preto (SP), Uberlândia (MG), Campos (RJ), Caxia do Sul (RS), Santa Maria (RS), Blumenau (SC), Joinville (SC)...

P: vc me indicaria alguma casa ou agencia?
R: Olha, em primeiro lugar eu teria que saber em que estado você está atuando. No entanto, eu estou sem muitas opções para te indicar. A casa que eu trabalhei em São Paulo não existe mais. A que eu trabalhei aqui eu saí brigada com o dono (que não veria com muitos bons olhos uma indicação minha).

Eu tinha uma norma de trabalho que era a seguinte: Eu deveria ser completamente independente. Eu tinha essa independência na casa em São Paulo e foi por falta dela que eu saí da casa daqui. Quando você está numa casa, você não PODE, nem DEVE, virar uma marionete nas mãos do dono da casa. Trocando em miúdos, a relação deve ser estritamente profissional. Você não pode, em hipótese alguma, deixar algum rabo preso com o dono da casa. Ele te dá proteção? Dá. Mas que ele desconte essa proteção como um percentual do seu preço. Não DEVA NADA, nem FAVORES para um cafetão ou dono de casa ou agência.

Essa é a armadilha que as garotas que vão trabalhar na Europa caem. Os agenciadores chegam com um lero-lero legal, dizendo que a garota vai ganhar fortunas etc. Quando chega na hora, a garota (já na europa) descobre que tem que pagar a passagem, os custos da viagem, o alojamento, a comida, a água, o uso do banheiro etc. Ou seja, se prostitui, se violenta (por que nao deixa de ser uma violência moral) e não recebe merda nenhuma. Muitas vezes, quando começam a criar problemas, são simplesmente "descartadas" pelos agenciadores (e entenda este "descartada" como quiser, fica na sua imaginação). E muitas vezes isso acontece aqui mesmo no Brasil... Por isso, minha cara, se você quiser seguir mesmo esta profissão, nunca deixe o rabo preso.

P: para vc valeu a pena a vida de gp?
R: Sinceramente? Teve uma época que eu achava que sim. Mas hoje, olhando o passado, eu vi que joguei alguns bons anos de vida no lixo. Como já disse aqui no blog, nunca fiz isso por dinheiro, pois minha condição sócio-econômica sempre foi muito boa. Eu o fazia pelo prazer que sentia em ter sexo a vontade, com estranhos e ainda sendo paga para isso. Ou seja, o que me seduzia era justamente esta situação de estar sendo "comprada" e "usada", se é que você consegue me entender... Isso levava (e ainda leva, só de pensar) meu tesão na estratosfera. No entanto, para conseguir esta satisfação, eu já sofri dois baques terríveis, que me levaram a uma parada temporária e, agora, a uma que acredito ser definitiva.

O primeiro baque aconteceu a uns dois anos atrás, quando peguei uma gripe muito forte por conta de um programa a céu aberto numa piscina numa noite fria, que derivou para uma infecção no ouvido (otite), que me levou a tomar um antibiótico, que me deu uma puta reação alérgica, que me deixou em coma uma semana numa UTI e com o fígado em frangalhos. Quase que tive que fazer um transplante de fígado, mas consegui me safar.

O segundo baque foi esse que você está acompanhando agora no blog, que ocorreu com uma colega minha. Isso sem contar as vezes que tive gonorréia na minha adolescência por transar sem camisinha com o primeiro que aparecesse.

Além disso, tem outras coisas que eu nunca revelei aqui no blog, mas que sempre me causam impacto:

  • TODAS as meninas, sem exceção, que trabalharam comigo em São Paulo hoje são viciadas em cocaína, heroína e/o crack;
  • Posso contar nos dedos as colegas minhas, de todas as cidades por onde passei, que não são viciadas e/ou que não passarm por episódios de violência;
  • Posso também contar nos dedos as colegas que não estão hoje com algum problema de saúde relacionado à atividade;
  • Já tive colegas que roubavam os clientes após o programa e davam o produto do roubo todo para o cafetão para não levar uma surra daquelas;
  • Sem contar com as inumeras vezes que fui abordada por policiais.
  • E, o pior, já tive duas colegas assassinadas, uma por seu cliente e outra por desconhecidos (mas que eu acredito ter sido o cafetão dela, apesar de não poder provar).

Eu mesma já tive várias saias justas por conta de clientes que entravam no quarto, se enchiam de cocaína e depois viravam "os machões". Em duas vezes escapei por pouco (uma por que consegui pegar o gás de pimenta que sempre levo comigo e na outra por que acertei um chute no joelho do cara e ele desabou, me dando tempo para fugir - completamente nua, mas inteira).

Isso tudo eu coloquei na balança nestas últimas semanas e cheguei a conclusão que os riscos não estavam compensando o prazer que eu sentia. Por isso, tomei a decisão de parar definitivamente de fazer programas. Nestes sete anos de prostituição eu não consegui criar nada de duradouro. Apenas uma ou outra amizade daquelas especiais. De resto, cheguei a conclusão que a minha vida era vazia, sem sentido.

P: Me desculpe por tantas perguntas...rsrs
R: Eu é que peço desculpas por usar seu questionamento como um desabafo, mas foi o que acabou ocorrendo. Se você tiver alguma dúvida, me mande um e-mail que eu respondo na maior boa vontade. Espero que agora você note por que eu demorei tanto em responder... ;o)


Um grande abraço a todos.

Atualização do Post - 13/05/2008 - 08:00hs:
  1. Coloquei uma lista do que eu considero cidades médias. Fica ao critério de cada um concordar com isso ou não. Algumas das cidades eu atuei. Outras eu conheço por conta de visitas que fiz e que gostei do que vi.
  2. Depois que eu postei e dei um tempo, reli o post e cheguei a uma conclusão: Acho que estou ficando muito rabugenta...
  3. Para a menina que me postou as perguntas: Não sei se eu fui uma boa conselheira, por conta do meu momento atual. Se você tivesse me mandado estas perguntas uns dois meses atrás, as perguntas seriam respondidas de forma completamente diferentes...
Bjs.

4 comentários:

Anônimo disse...

Querida Anika...realmente algumas coisas vc nao relatou no seu blog e entendo agora o porque...e muitas outras eu ja imaginava que tinha acontecido...tem gente que ainda acha "VOCES" de mulheres de vida facil

Facil pra quem nao conhece e que nao sente na pele a dura verdade e a violencia , o desacaso , os xingamentos, a exposicao que essa profissao impõe

Adorei o seu relato e respostas , pois prova que vc não é mais uma na multidao , mas uma pessoa com conteudo , conhecimento ....te adoro a cada dia, e a cada dia vc me surpreende , e sempre surpresas boas.

Beijos querida

Anika disse...

Oi Dé.

Obrigada pelos elogios...
Bjs.

Anônimo disse...

Vou aproveitar pra fazer uma pergunta delicada, não precisa responder se não quiser: vc teve algum problema com drogas Anika?

Tem garota que entra nessa por tesão, tem outras que entram só pela grana, mas não são poucas que entram (ou seguem na profissão) pra sustentar o vício mesmo. Fora as que se chapam pra terem coragem de encarar os serviços.

E agora que vc parou, acho que vai poder responder isso com sinceridade... rs

Vc sempre sentia tesão de estar sendo comprada em qualquer programa? Mesmo quando o cara era feioso? hehe...

Sobre seu comentário no outro tópico, não foi vc que pôs minhoca na minha cabeça não, fui eu mesmo. rs

Anika disse...

Oi Jean_Luc

Vou te responder em um post separado, ok??

E vê se entra de novo no orkut, né???

Bjs.