Você sabe o que é um “inferninho”? É uma casa, ou um bar, em que garotas de programa atendem a vários clientes num dia ou noite. Alias, para quem trabalha num inferninho, ser chamada de garota de programas é um elogio... O mais comum é chamarem de puta mesmo.
Pois é... Eu já trabalhei num desses. “Mas como??? Uma garota bonita, inteligente, sem preocupações financeira?? Uma puta??? Não pode ser, deve haver algum engano!!!!”
Não. Não tem. Eu era uma puta. E puta de inferninho.
Vou dizer apenas que era em São Paulo. E que isso já aconteceu a alguns anos...
E por que eu trabalhava lá, se eu não tinha necessidades financeiras? Simplesmente por que eu era, na época, viciada em sexo. E qual a melhor forma de satisfazer este vício? Pois é...
Por ser um inferninho, eu atendia todo tipo de cliente. Desde o tiozinho que pintava o cabelo e funcionava na base de viagra (se achando o rei da cocada preta) até rapazotes que mal haviam saído das fraldas. Desde o superdotado (sim, isso existe!!!!) até o famoso “pau de japonês”. Desde ricos que gostam do lado marginal da cidade até os pobres que não conseguem sair desde mesmo lado.
O local onde trabalhei (já foi até demolido) ficava em uma rua próxima ao início da Brigadeiro Luiz Antônio, no centro velho. Apesar disso era uma rua tranquila, ainda não dominada pelos viciados em crack. Numa primeira vista, era apenas um boteco normal, com uma mesa de sinuca e várias mesas para o pessoal da cerveja. Indo em direção ao fundo do bar, escondido por um espécie de biombo, uma porta levava à uma escada para o andar superior, onde funcionava o inferninho. Este era constituído por um salão com poltronas velhas, algumas rasgadas, com um balcão em uma parede onde o dono controlava o movimento e vendia bebidas. Na parede oposta, uma porta de vai-e-vem levava aos quartos, três de um lado e quatro de outro. A quarta porta de um dos lados era o único banheiro do local. No salão a gente ficava aguardando os clientes, sempre em trajes mínimos ou sumários. No local trabalhavam ao menos quatro mulheres em cada noite, com o time sendo reforçado de quinta a sábado com meninas que faziam programas avulsos nos outros dias. Os quartos eram minúsculos, com espaço apenas para uma cama, um pequeno criado-mudo onde guardávamos camisinhas, lubricantes etc e uma cadeira. Pelo menos o dono do inferninho trocava os lençóis todas as noites, mas era invariável que, à partir do segundo programa, o mesmo já ficasse melado ou com manchas de sujeira. Além disso, o quarto ficava impregnado de com um odor que chamo de “cheiro de sexo”, uma mistura de suor, esperma, fluídos corporais, lubrificante íntimo etc. Banheiro, como eu disse, só o corredor e era até relativamente limpo para os padrões do local. Quer dizer, banheiro nenhum aguenta limpo após às duas da manhã num local desses.
Os clientes tratavam diretamente com o dono do local o tipo de programa e de mulher que eles gostariam. Sim, por que tinha cliente chato. Tinha aquele que só queria negras. Outro não queria magras e quanto maior a bunda melhor. Tinha o “panela velha”, apelidado assim por que sempre queria uma com mais de 40 anos... Mas a grande maioria pedia qualquer uma mesmo.
Como falei acima, a clientela era eclética. Como o programa era relativamente barato para a época (nem sei quanto daria hoje), dava de tudo. Camelôs, operários e trabalhadores braçais eram constantes, vindo se “aliviar” depois de um dia de trabalho. Mas também aparecia, vez ou outra, um cara mais endinheirado. Eu gostava de atender aos primeiros mas não muito os do segundo grupo. Explico: normalmente o operário era um cara relativamente jovem, solteiro e com todo o gás. Chegava, te levava pro quarto, te dava uma BOA comida e ia embora em seguida, deixando a vaga para o próximo. Já os do segundo grupo (os endinheirados) eram cheios de fricote. Normalmente tiozinhos de cabelos tingido, se sentindo os donos do pedaço e sem fôlego algum, querendo fazer o serviço de um adolescente de 17 anos mas com um pau de 60. Mal davam para o gasto, quanto mais para me satisfazer. Se o cara entrava bêbado ou arrumasse confusão, tinhamos o “Montanha” para nos ajudar. Montanha era o nosso leão-de-chácara. O braço do sujeito era do tamanho da minha coxa. Mais de uma vez eu vi o Montanha levantando um cliente do chão para expulsar ele do local por algum motivo. Dois anos depois que parei de trabalhar no local fiquei sabendo que um cliente mais esquentado, que tinha sido expulso, voltou e atirou no Montanha. Por sorte o tiro pegou no seu ombro esquerdo. No entanto, vários ossos foram quebrados e ele quase perdeu o braço por isso.
A rotatividade de clientes era alta. Numa noite calma eu atendia de quatro a cinco clientes. Num final de semana chegava brincando a 10, 12 clientes. Tinha noites que eu chegava por volta das 19:00hs e saia só com o sol raiando. Os meus programas eram sempre com camisinha, mas eu tinha colegas que dispensavam para poder cobrar mais dos clientes. Assim, eu era a única que não pegava uma DST a cada mês.
Trabalhei na casa vários meses, numa época em que me deixei levar pela putaria da mais baixa. Quando eu comecei a fazer programas, eu era extremamente seletiva. No entanto, quanto mais programas eu fazia, mais eu queria fazer. Deixei de ser tão seletiva e baixei os preços, passando a atender qualquer um que me ligava. Como terceiro passo ladeira abaixo, comecei a bater ponto na rua, numa esquina de uma praça. Foi nessa esquina que conheci a garota que me levou até o inferninho, por onde um fiquei chafurdando quase um ano, trabalhando de segunda à sábado, sem descanso. Aos poucos fui recobrando minha consciência e que não deveria ficar ali. Aí comecei a subir a ladeira de novo. O processo todo de descida da ladeira, do primeiro programa até começar no inferninho, foi de apenas uns seis meses, não mais do que isso. O primeiro passo (e o mais difícil) foi justamente abandonar o local. Na realidade eu não abandonei. Simplesmente saí do inferninho para outro local, mas com um ambiente muito mais sofisticado e rentável, com uma rotatividade de clientes muito menor, mas com ganhos maiores. Dali eu saí para o meu modelo inicial de programa, ou seja, atendimento avulso e altamente seletivo. Inclusive saí de São Paulo para abandonar de vez aquele estilo de vida.
Tudo isso que estou contando aconteceu bem antes de eu escrever no blog. Se vocês tiverem curiosidade, voltem às primeiras postagens e deliciem-se com causos contados lá.